Brasil pode adicionar 9 GW de energia solar distribuída nos próximos dois anos
O Brasil pode ver a implantação de 4 GW de nova capacidade solar de geração distribuída este ano e outros 5 GW no próximo ano, de acordo com Aldo Pereira Teixeira, o CEO da maior distribuidora de produtos fotovoltaicos e integradora de sistemas do Brasil. Em entrevista à revista pv, ele explica por que e como esse enorme crescimento pode se materializar.
“Com os problemas financeiros de nossos concorrentes, Aldo se tornou o maior distribuidor de produtos FV do Brasil este ano”, disse o presidente da maior distribuidora de produtos FV e integrador de sistemas do Brasil, Aldo Pereira Teixeira, em entrevista à revista pv . “Atualmente, nossa participação de mercado é de cerca de 35 a 36 por cento.”
A Aldo concentra-se atualmente na venda de sistemas fotovoltaicos residenciais, comerciais e industriais e apenas 3% da receita da empresa está concentrada em projetos com potência superior a 1 MW, nos quais o autoconsumo remoto é prioritário. A situação da geração distribuída no Brasil ainda é muito promissora, acrescentou Pereira Teixeira. “O Brasil tem 89 milhões de unidades consumidoras e apenas 330.000 sistemas fotovoltaicos conectados à rede; temos um espaço enorme para continuar crescendo. ”
A crise da Covid-19 só causou uma queda acentuada no mercado nos meses de abril e maio e agora já se recuperou, atingindo os mesmos números do ano passado, disse. “E no quarto trimestre os números são bem maiores do que no ano passado. O faturamento de Aldo vai crescer 50% este ano. ”
O segmento de geração distribuída, que no Brasil inclui todos os geradores de energia solar com tamanho não superior a 5 MW, deve experimentar em 2020 um crescimento de 50% em relação a 2019. “A previsão é que até o final de 2020, o mercado atinja 4,5 GW de potência instalada com 360.000 unidades consumidoras, com 180.000 novas unidades adicionadas somente este ano ”, especificou o chefe de Aldo. “Para 2021, o crescimento estimado deve ser de pelo menos mais 4 GW e 360 mil novas unidades consumidoras e, para 2022, estimamos mais 5 GW de potência instalada e outras 400 mil novas unidades consumidoras.”
As recentes mudanças regulatórias introduzidas pelo governo brasileiro, em sua opinião, afetaram o mercado principalmente em termos de preços dos sistemas fotovoltaicos, que caíram 40%. “Mas os preços dos painéis também caíram na China e no mundo”, acrescentou. “E felizmente o Brasil decidiu eliminar o imposto de importação sobre os painéis, o que lhe permitiu manter um bom equilíbrio no investimento de 40 ou 45 meses.” Até o momento, porém, os chamados “ex-tarifários”, que reduziram em 12% o imposto de importação do painel, não tiveram impacto no aumento das vendas.
Isso porque o governo limitou o valor do custo, seguro e frete (CIF) desses equipamentos em reais, que tem sofrido com a variação cambial, com o dólar nas taxas mais altas já vistas. “No caso dos inversores, por outro lado, a redução da tarifa foi de 14% e essa redução teve um impacto positivo no preço final porque os valores não estavam atrelados ao CIF”, disse. No momento, o que está impactando o valor final é o custo do frete internacional, que tem impacto direto no CIF. Embora já tenha um dólar favorável, o frete é o que atrapalha a redução de valores. “A previsão de crescimento comercial na venda de painéis com a redução da alíquota dos ex-tarifários deve acontecer no segundo trimestre de 2021, quando os fretes marítimos internacionais deverão se normalizar”, acrescentou.
A ação do governo, segundo Pereira Teixeira, foi adequada não só para resolver a questão do imposto de importação, mas também para responder à questão do câmbio desfavorável, que está afetando toda a economia brasileira. “O governo poderia viabilizar rapidamente a aprovação de um projeto de lei que servisse de marco legal para a geração distribuída no Brasil, trazendo ainda mais certeza e, consequentemente, maior crescimento para o setor”, disse.
Ressaltando as dificuldades do segmento residencial em relação aos segmentos comercial e industrial no Brasil, o presidente da Aldo disse que o principal problema continua sendo a disseminação de informações sobre a tecnologia. “Uma maior escolaridade permitiria a muitos proprietários saber que podem cuidar de suas despesas e ao mesmo tempo do meio ambiente, permitindo que mais água permaneça nas barragens e reduzindo a poluição”, afirmou.
Quanto ao financiamento de projetos, historicamente o Brasil nunca teve uma taxa de juros tão baixa, com a taxa Selic (taxa básica de juros do Brasil) de 2,0% ao ano. “Esta é a taxa mais baixa em décadas”, observou ele. “Com taxas de juros mais baixas do que as praticadas atualmente, o sistema financeiro brasileiro favorece que os financiamentos sejam mais acessíveis para projetos residenciais e comerciais.” As condições são, portanto, muito vantajosas e garantem ainda mais desenvolvimento para o setor, acrescentou.
“Hoje, na Aldo Solar, 45% de todas as vendas são feitas com financiamento do sistema financeiro.”
Questionado se o Brasil poderia se tornar um país fabricante de componentes fotovoltaicos, Pereira Teixeira disse que o país não tinha uma indústria de semicondutores e, portanto, a fabricação de painéis não faria muito sentido. “Os mesmos fabricantes que já existem no Brasil têm que importar todas as matérias-primas da Ásia”, disse. “Nesse sentido, podemos nos tornar mais montadores de produtos do que verdadeiros produtores.” Por isso, os produtos fotovoltaicos brasileiros, inclusive inversores, podem ser 30% mais caros do que os importados da China.
Sobre os níveis de qualidade do mercado fotovoltaico brasileiro, Teixeira Pereira disse que esta questão é prioritária para o negócio de geração distribuída, onde não existem contratos com o Estado ou leilões de qualquer natureza. “Os principais fornecedores da Aldo são JinkoSolar, Trina, SMA, Fronius, Fimer, Growatt e também a BYD, que sabemos que tem uma fábrica de painéis aqui em São Paulo e também vende baterias”, disse. “Sempre buscamos qualidade e valor para fazer projetos que durem entre 25 e 30 anos.”
De acordo com suas estimativas, o mercado brasileiro em breve terá uma participação majoritária de 70 por cento dos painéis PERC monocristalinos, enquanto os produtos policristalinos cairão ainda mais para ter uma participação de 30 por cento. A Aldo está lançando nestas semanas os novos módulos de alta potência de grandes fabricantes chineses como Jinko e Trina, embora em versões pequenas, com uma potência em torno de 440 W, que podem ser usados em projetos de telhado. “Esses módulos são um pouco mais caros do que os painéis convencionais, mas permitem um custo final de instalação mais baixo.” Sem dúvida, esses painéis serão os mais vendidos no Brasil a partir do primeiro trimestre de 2021 e deverão ter 80% de participação, pois são feitos exclusivamente para geração distribuída e atendem à grande maioria dos projetos de coberturas no Brasil, explicou Teixeira Pereira. “Esses painéis são mais eficientes,
Sobre a possibilidade de expandir os negócios da empresa no exterior, Pereira Teixeira disse que demoraria pelo menos 10 anos para o mercado brasileiro ficar saturado. “E até lá, queremos continuar crescendo e manter nossa liderança aqui”, comentou. “O Brasil ainda está dando os primeiros passos em energia solar.”